Ato altruísta, adotar um animal de estimação não é uma decisão fácil de se tomar, principalmente em relação a aqueles com deficiência. Envolve comprometimento com a missão de proporcionar a outro ser, geralmente peludinho e de olhar curioso, uma rotina repleta de atenção e cuidados específicos.
Tendo em vista esses preceitos, algumas pessoas aderem à sensibilidade e reconhecem a importância de se acolher um bichinho em condições incomuns. Professora de Inglês, Luana Strabelli é uma delas.
Moradora do Jd. Aeroporto, em Bauru, Luana procurou o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) na última segunda-feira (24) em busca de um cachorro paraplégico que tinha visto em suas redes sociais. “Meu interesse era pegar um bichinho que ninguém quisesse”, relata. No local, os profissionais logo souberam por quem Luana estava interessada.
Conhecido por ser o “cãozinho-propaganda” da campanha de vacinação contra a raiva em Bauru, no ano passado, Ceninha foi vítima de um atropelamento aos seis meses de idade. Debilitado, o filhote foi resgatado pela equipe do CCZ, responsável por submetê-lo a exames veterinários que constataram uma fratura em sua coluna vertebral.
Após a constatação, Ceninha passou a contar com os cuidados de especialistas e chegou a fazer tratamentos como acupuntura e fisioterapia animal. O diagnóstico conclusivo, no entanto, não atendeu as esperanças dos engajados profissionais. Com sequelas físicas irreversíveis, Ceninha não voltaria a apoiar as pernas traseiras com firmeza para andar.
No entanto, nada poderia tirar do entusiasmado filhote a vontade de brincar e de viver em igualdade com outros cachorros. A saída encontrada pelo CCZ para proporcionar à Ceninha mobilidade e qualidade de vida foi equipá-lo com uma cadeira de rodas adaptada, especialmente confeccionada para atender as necessidades do animal e em conformidade com suas características físicas.
Daí, o apelido. Batizado em alusão à Ayrton Senna, falecido tricampeão de Fórmula 1, Ceninha adaptou-se facilmente ao equipamento e não demorou a correr diariamente pelas dependências do local, sempre de forma ágil e energética. Ele ganhou o nome com a inicial “C” e não “S”, na época, devido aos direitos autorais pertencentes a marca Senna.
“Foi amor à primeira vista”, declara Luana, entusiasmada. “Mãe de pet”, termo pelo qual ficaram conhecidas as pessoas que nutrem amor incondicional por seus bichinhos, a professora adotou o cachorro após ele esperar por um novo lar durante os últimos três anos. “Já é difícil as pessoas adotarem um animal adulto, imagina com deficiência”, pontua.
Ele estava aguardando uma família há três anos, no CCZ. Neste tempo, contribuiu com propaganda de vacinação. Ceninha se locomove com ajuda da cadeirinha de rodas adaptada
Além de Ceninha, Luana é dona de outros dois cães, Led e Raul, e mais dois gatos, Jani e Zé. Segundo ela, a adaptação na nova casa tem sido tranquila. Nada tímido, Ceninha já se enturmou com os novos colegas. “Ele não pára um segundo”, declara Luana em meio a risos.
Valéria Medina, chefe da Seção de Controle de Zoonoses, destaca que a equipe da unidade recebeu a visita de Luana com muita emoção. “Achávamos que ele nunca fosse ser adotado”, confessa. Valéria justifica que a adoção de um animal com deficiência demanda cuidados que nem todos têm ou poder ter.
“Ficamos muito felizes que ainda há pessoas que não se importam com deficiências na hora de adotar”, alega emocionada. “O Ceninha não poderia ser melhor acolhido”, ressalta e finaliza dizendo que o cachorro é muito inteligente, amoroso e ativo.
“Ele é absurdamente amoroso”, reitera Luana. Ela entende como aspecto positivo da adoção o carinho oferecido pelos animais. “O amor dado por eles não tem preço”, conclui.
Outros também esperam por um novo lar
Mesmo com a saída de Ceninha, o CCZ ainda tem dificuldades para encontrar adotantes interessados em animais com deficiência. Hoje, a unidade conta com outros três cachorros e uma gata com deficiência e a espera de uma família. Entre eles estão um cachorro chamado Pata, com problema em uma das pernas, e duas cadelas. A gata, de nome “Fia”, possui traumatismo na coluna. Além deles, um cachorro de nome “Veio”, com idade avançada, espera também por um novo dono.
Depois de adotados, os animais continuam a receber acompanhamento de um fiscal do Centro por meio de visitas domiciliares. O intuito é dar continuidade aos cuidados iniciados ainda na unidade, monitorar a adaptação do bichinho em sua nova casa e fiscalizar possíveis ocorrências de maus tratos, com pena de recolhimento do animal e autuação do proprietário.
Serviço
Centro de Controle de Zoonoses
Endereço: Rua Henrique Hunzicker, s/n, Jardim Redentor /Cecap, próximo ao Cemitério do Jd. Redentor. Funcionamento: segunda à sexta-feira, das 8h às 16h.
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